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Muitas mulheres têm escrito histórias com alguns plots similares à Crepúsculo e 50 tons de cinza. Louvável que as mulheres estejam ocupando o espaço do erótico. O problema não está no sexo nem no hot (como são conhecidas estas histórias). As mulheres dos romances são pobres e recebem a proposta de casar com um CEO; jovens que se encantam por um homem bruto (dono do morro ou mafioso), que tem um coração mole e acaba se apaixonando pela heroína do livro; a moça que engravida e o pai nada sabe da história. Muitos desses plots vêm do Oriente. Os doramas têm a mesma história repetidas vezes. O problema também não está na fantasia de romances provocados por situações úteis para a história. Basicamente, é o homem rico e/ou, a mulher má e a jovem boa. Outras histórias trazem homens mais velhos que namoram jovens sonhadoras.
Claro que nós todos conhecemos estas histórias de longa data, que eram os antigos livros vendidos em bancas de jornal que tinham por nome Julia, Sabrina e Bianca. Fantasiar é saudável. No entanto, quando o espírito do tempo é representado por obras cujos protagonistas são bad boys e se transformam em homens honrados porque a jovem sonhadora e ingênua os conquistou. Isso me causa certa preocupação tanto como escritora quanto como terapeuta. A realidade de uma relação assim passa bem longe de um final feliz e um homem completamente modificado.
Muitos desses homens (máfia, dono de morro, ceo), muitas vezes, têm personalidades antissociais (definido antes como psicopata ou sociopata). São as pessoas que criam o "love bomb" para conquistar a presa e quando ela cai de amores, o inferno começa. São os predadores ou predadoras cujas intenções estão em controlar.
As regras não existem para pessoas assim. Elas existem para serem quebradas e não há nenhum decoro em fazer isso. Os homens moldados pela necessidade de poder são cruéis, violentos e agem de acordo com seus interesses. As pessoas que sobrevivem aos abusos e maus tratos levam marcas eternas em suas almas e o ajuste na psique é deixado para profissionais da saúde mental. Entendo a fantasia, o desejo, por exemplo, de alguém não ter que trabalhar arduamente em um emprego que odeia e ser sustentada por alguém pode parecer algo bom. A maioria das histórias que conheço que foram vividas com esta premissa passam bem longe de algo bom de ser vivido.
Robert A. Johnson, no seu livro We, destaca que a humanidade começou a ter relacionamentos com amor a partir do Século XIX já que não havia mais casamentos arranjados. Ou seja, tem pouco mais de cem anos que podemos escolher com quem iremos passar uma parte da vida e as pessoas que desejam um relacionamento amoroso querem ser felizes e não fazer escolhas pobres.
Meu questionamento diz respeito ao fato de que não há muitas histórias sobre protagonistas que estão bem sozinhas e querem permanecer desse jeito. Ainda parece que o objetivo de toda mulher é estar com um homem que possa bancá-la (outro tema que dá um texto grande). É errado? Não. O problema é que, na maioria dos casos, isso significa que quem tem o dinheiro também dita as regras. As histórias românticas falam de um homem que dá flores, abre a porta do carro, leva para jantar, dá joias (entendam, há homens bons que fazem isso) e são verdadeiros demônios. Basta assistir Vivendo com o inimigo (canal Investigação Discovery) ou os vários documentários sobre psicopatas na Netflix.
Sinto uma grande preocupação quando uma mulher está em um lar em que apanha e diz: Mas ele é um bom homem, paga tudo que eu preciso. Esta frase existe porque fomos condicionados a acreditar que se a pessoa é capaz de prover, ela é boa.
Parte do problema está nas histórias de entretenimento que consumimos. Elas falam que a pessoa que faz certas coisas é uma boa pessoa, que se relacionar é se sacrificar. Aprendi que não é bem assim. Nós temos que ser donos de nós mesmos e impor limites. Enquanto acreditamos que os sacrifícios são capazes de transformar o outro e torná-lo bom, predadores continuarão a abusar e fica difícil quando a cultura nos mostra que uma boa pessoa é quem pode dar conforto e dinheiro. Qual será o preço que as pessoas pagam para ter isso? Muitas morrem em nome do amor. É assim que devemos viver? Ter medo, mas aceitar os bens de consumo ou que nossos filhos estejam na escola e também tenham o que desejam?
Como criadores de conteúdo, precisamos pensar em como nossas histórias impactam a vida de alguém. No meu livro A biblioteca de Alexandria, os leitores torciam para que a protagonista ficasse com o bad boy. Também precisamos nos dar conta que a mudança não se dá porque alguém é capaz de mudar o outro. A mudança vem do reconhecimento do erro (ou do sofrimento do abuso) e isso faz com que seres humanos se tornem melhores.
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